23/10/2007

Afinal que competição é esta?

Nos anos 50, o futebol internacional ainda conhecia uma época de profunda timidez. Foi então que, a partir de 55/56, por obra visionária de franceses sonhadores, nasceu a Taça dos Campeões e os monstros da bola, que antes praticamente só brilhavam entre fronteiras, passaram a passear a sua classe em todos os relvados do Velho Continente. No seu início, cada jogo era um mistério para cada equipa.



A grande competição foi prontamente dominada pelo monstro branco Real Madrid, que detinha na sua equipa os melhores jogadores da altura (finais dos anos 50).

  • O argentino Di Stefano
  • O húngaro Puskas (58-59-60)
  • O francês Raymond Kopa (57-58-59)
  • E o espanhol Gento, que ainda hoje detém o record de ter sido o único jogador a ganhar 6 vezes a competição.
Tactica 3x2x5. Venceram as primeiras 5 Taça/Liga dos Campeões.

  • 1956 – Real Madrid (Espanha) -Stade Reims 4-3
  • 1957 – Real Madrid (Espanha) --Fiorentina 2-1
  • 1958 – Real Madrid (Espanha) - – Milan 3-2
  • 1959 – Real Madrid (Espanha)--Stade Reims 2-0
  • 1960 - Real Madrid (Espanha)-- Eintracht Frankfurt 7-3


Seguia-se o Benfica capitaneado pelo mítico Eusébio e chefiado pelo treinador húngaro Bella Gutman que com a táctica 4x2x4, chegaria á final 5 vezes durante os anos 60, vencendo 2 e perdendo 3. Inédito no futebol português.
  • 1961 – Benfica (Portugal)-Barcelona 3-2
  • 1962 – Benfica (Portugal)-Real Madrid – 5-3
Até 1966 apenas equipas latinas (Espanha, Portugal e Itália) conseguiriam conquistar o troféu. As friezas tácticas italianas começaram a dar cartas em 63 com o Milan de Rocco e depois o Inter do grande mestre Herrera.
  • 1963 - Milan (Itália)-Benfica 2-1
  • 1964 – Inter (Itália)-Real Madrid – 3-1
  • 1965 - Inter (Itália)-Benfica 1-0
  • 1966 – Real Madrid (Espanha)-- Partizan 3-1

Só em 1967 a maior competição europeia chegaria ás ilhas britânicas, numa tarde em que o Celtic de Stein bateu o Inter de Herrera em pleno estádio do Jamor. O M. United de Bobby Charlton e George Best deu seguimento á proeza britânica, e depois de um empate a 1 golo frente aos candidatos Benfica, venceram por uns expressivos 4-1 no prolongamento.

  • 1967 – Celtic (Escócia)-Inter - 2-1
  • 1968 – Manchester United (Inglaterra)-Benfica -4-1

O Milan em 69 deu o ultimo suspiro das chamadas equipas latinas que apenas em 1985 voltariam a por a mão na taça das orelhas grandes.

  • 1969 – Milan (Itália)-Ajax – 4-1




Os anos 70 seriam completamente dominados por 3 países. Primeiro pelo chamado futebol total, a maior revolução táctica dos tempos modernos, quando, visionários, os holandeses, encrostados ente o sul e o norte da Europa, criaram, pela mão de Rinus Michels no banco e J. Cruyft no relvado, um superior conceito de entender o jogo que dariam ao Ajax 3 vitórias consecutivas na competição e 2 finais perdidas á laranja mecânica em campeonatos do mundo (74 e 78). A sua base do sistema, embora apostando na elevada cultura táctico-técnica dos jogadores, baseava-se, porém, na elevada condição atlética dos seus intérpretes, era afinal, a descoberta do triângulo da vida no futebol: táctica, técnica e velocidade.

  • 1970 – Feyenoord (Holanda)-Celtic – 2-1
  • 1971 - Ajax (Holanda)-Panathinaikos – 1-0
  • 1972 - Ajax (Holanda)-Inter – 2-0
  • 1973 - Ajax (Holanda)- Juventus – 1-0



Seguiu-se o futebol físico e musculado dos Alemães. A Alemanha liderada por Beckanbauer ganhava o Mundial 74 e a sua base estava toda no Bayer Muniche, que transportou a mística vencedora para as competições europeias.

Sepp Maier na baliza

Beckanbauer o grande líder, impôs o chamado libero, onde ele atacava e defendia a todo o campo.

Paul Breitner, apenas fez parte da equipa no primeiro em 74 saindo depois para o Real Madrid, era uma referência do futebol alemão.

E finalmente o grande goleador e conhecido como bombardeiro Gerd Muller.

  • 1974- Bayern Munique ( (RFA)-At.Madrid – 4-0
  • 1975- Bayern Munique (RFA)-Leeds –2-01
  • 976 – Bayern Munique (RFA)-St-Etienne – 1-0



Finalmente para finalizar a década de 70, tivemos o futebol directo tipicamente britânico feito de lançamentos longos e bolas divididas. Baseados na força, sem grandes rasgos individuais, os onzes alemães e ingleses jogavam, no entanto, um futebol pouco imaginativo. Na base dos seus sistemas tácticos estava um 4-4-2 com um meio campo agressivo.

  • 1977- Liverpool (Inglaterra)-B. Monchengladbach- 3-1
  • 1978- Liverpool (Inglaterra).Bruges – 1-01
  • 1979- Nottingham Forest (Inglaterra)-Malmoe -1-0
  • 1980- Nottingham Forest-Hamburgo – 1-0
  • 1981- Liverpool (Inglaterra)-Real Madrid – 1-0
  • 1982 – Aston Villa (Inglaterra)- Bayern Munique – 1-0
  • 1983- Hamburgo (RFA)-Juventus – 1-0
  • 1984 – Liverpool (Inglaterra)-Roma 1-1 (4-2g.p.)

Subitamente, em 1985, a tragédia de Heysel colocaria um ponto final no domínio britânico, com as equipas inglesas suspensas da UEFA por cinco anos. Os doze anos seguintes marcariam, assim, um novo ciclo de domínio latino, que teve como principal motor o renovado do futebol italiano, financeiramente em alta e com o mercado reaberto a estrangeiros. Neste novo domínio latino também surgiria espaço para as primeiras conquistas gaulesas (Marselha, 93), romenas (Steaua, 86) e jugoslavas (Estrela Vermelha, 91), até ao regresso do futebol português, já sem os aromas ultramarinos, mas com perfume brasileiro, aos grandes palcos (FC Porto, 87) após uma longa travessia do deserto.

  • 1985 – Juventus (Itália)-Liverpool – 1-0
  • 1986 - Steaua Bucarest (Roménia)-Barcelona – 0-0 (2-0 g.p.)
  • 1987 – FC Porto (Portugal)-Bayern Munique – 2-1
  • 1988 – PSV (Holanda)Benfica 0-0 (6-5 g.p.)
  • 1989 – Milan (Italia)-Steau Bucarest – 4-0
  • 1990- Milan (Italia)-Benfica – 1-0
  • 1991- Estrela Vermelha (Jugoslávia)-Marselha – 0-0 (5-3 g.p.)
  • 1992- Barcelona (Espanha)-Sampdoria – 1-0
  • 1993- Marselha (França)-Milan – 1-0
  • 1994- Milan (Italia)-Barcelona – 4-0
  • 1995- Ajax (Holanda)-Milan –1-0
  • 1996- Juventus (Italia)-Ajax – 1-1 (4-2 g.p.)
Em termos colectivos é importante destacar o inolvidável Milan de Baresi, Maldini e Donadoni, reforçados pela tríade holandesa Gullit – Rijkaard – Van Basten. A dupla atacante mortífera armada por Pancev e Savicevic na equipa de leste, e do excelente conjunto franceses chefiados por Desailly e Deschamps.



A partir de 1996, com a eclosão da lei-Bosman e o fim das fronteiras, o futebol europeu entrou numa nova era, onde as equipas se tornaram verdadeiras torres de babel, ao ponto de, muitas vezes, ser quase impossível descobrir o verdadeiro estilo do país que cada clube representa, facto que se verifica, sobretudo, nas equipas britânicas, como o actual Liverpol de Benitez, no qual, para além dos cânticos dos adeptos na bancada, é inútil procurar pontos de contacto com os mitos dos anos 70. Se 97 é o ano de estreia do Dortmund, 98 É o regresso do galáctico Real Madrid, 32 anos depois, ao títulos europeus. 99 todo o mérito vai para Alex Fergunson que finalmente deu frutos á sua longa caminhada em Old Trafford. Mas o treinador escocês ficou ofuscado por outro símbolo actual do banco, um treinador multicultural que guiou não só o Borussia Dortmund, em 97, mas também o Bayern Munique, em 2001, ao título europeu: Hotmar Hitzfeld o seu nome. Em ambos os casos jogando num sistema de três defesas, o 3x5x2, do qual os alemães foram historicamente precursores.



  • 1997 – Borussia Dortmund (Alemanha)-Juventus – 3-1
  • 1998- Real Madrid (Espanha)-Juventus – 1-0
  • 1999- Manchester United (Inglaterra)-Bayern Munique – 2-1
  • 2000- Real Madrid (Espanha)-Valência – 3-0
  • 2001- Bayern Munique(Alemanha)-Valencia – 0-0 (5-4 g.p.)
  • 2002- Real Madrid (Espanha)-B.Leverkusen – 2-1
  • 2003 – Milan (Itália)-Juventus – 0-0 (3-2 g.p.)
  • 2004 – FC Porto (Portugal)-Mónaco – 3-02
  • 2005- Liverpool (Inglaterra)-Milan - 3-3 (4-2 g.p.)
  • 2006- Barcelona (Espanha) - Arsenal - 2-1
  • 2007- Milan (Itália) - Liverpool - 2-0
Mais do que na oposição força-técnica, o futebol actual encontra-se, sobretudo, dominado pela táctica, como provam os grandes treinadores do presente, todos, desde Mourinho e Benitez até Capello e Ancelotti, adeptos da componente realista que molda as mais fortes equipas da actualidade, na qual a base da dinâmica táctica reside na velocidade das transições defesa-ataque-defesa. Mais do que em picos de forma, deve-se falar antes em picos de modelo de jogo.

Cumprimentos.

Sem comentários:

Enviar um comentário