15/11/2007

Olhares distantes da Selecção Nacional


Com um olhar escurecido e recordando bem fundo o inicio da historia da nossa selecção nacional, existe uma personagem a ser obrigatoriamente destacada. Cândido de Oliveira nasceu em Fronteira, distrito de Portalegre, a 24 de Setembro de 1896 e foi sem dúvida alguma o primeiro grande estudioso e inovador que passou toda uma vida a lutar em função da evolução do futebol português. No dia 18 de Dezembro de 1921, a selecção nacional Portuguesa fazia o primeiro jogo oficial em Madrid frente á Espanha, derrota por 3-1 e o capitão da equipa era: Cândido de Oliveira. Em Maio de 1928, Portugal jogava nos jogos olímpicos de Amesterdão, a sua primeira grande competição, a equipa estava motivada e conhecia novas realidades futebolísticas incutidas por um seleccionador ambicioso, de seu nome: Cândido Oliveira. Ele viria a ocupar esse cargo mais 4 vezes intercaladas até 1952. O grande mestre do futebol português tentava incutir novas ideias, mentalidades, tácticas, apelava pelo profissionalismo do futebol e queixa-se da falta de infra-estruturas. Hoje, em 2007 amantes do futebol nacional, lemos diariamente o jornal desportivo A Bola, esse transporte de informação desportiva foi criado e fundado em 1945 por nada mais, nada menos: Cândido Oliveira. Antes disso e regressando ao inicio dos anos 40, o Governo de Portugal já era denominado governo de Salazar e o resto já todos nos sabemos. Cândido Fernandes Plácido Oliveira, é um indefectível apoiante dos movimentos de insurreição que se espalham pelo território. Democrata convicto toma desassombradas posições públicas contra os regimes de Hitler, Mussolini e não perdoa Salazar pela sua colagem a tais ideias fascistas. Nem o facto de ser seleccionador nacional de futebol o evitou de ser espancado e torturado e seguidamente enviado para o famoso campo de Tarrafal em Cabo Verde no verão de 1942. Lá escreveu o famoso livro Tarrafal – O Pântano da Morte, publicado apenas em 1974 após o 25 de Abril. O livro era assombroso e por lá podia-se ler que dentro do campo não se vive! Aguarda-se a morte! É a morte lenta mas certa. No entanto seria solto em 1945 e só viria morrer em 1958, vítima de uma infecção pulmonar quando estava na Suécia acompanhar o campeonato do Mundo,
Grande figura humana, trabalhador incansável no sentido de que o Futebol Português se colocasse ao nível do que acontecia nos outros países da Europa, sobretudo nas suas vertentes organizativas, foi dignificado quando a Supertaça que põe frente a frente o vencedor do Campeonato com a Taça de Portugal passou a ter o seu nome. E agora só para os mais pacientes e curiosos, Portugal perdia em 1953 por 9-1 em Viena frente á Áustria num jogo de apuramento para o Mundial de 54 a realizar na Suiça. No dia seguinte no seu jornal A Bola, o primeiro grande mestre do futebol português escrevia o seguinte:




“O futebol nacional está longe, muito longe mesmo, de possuir uma categoria técnica idêntica á dos países mais progressivos. Valemos pouco, numa palavra, em confronto com os países de alta valia futebolística e, nomeadamente, em relação aqueles que no consenso geral marcham na vanguarda – Inglaterra, Alemanha, Áustria e Hungria, no velho continente; Argentina, Uruguai e Brasil, no outro lado do atlântico – do futebol mundial. E se valemos muito pouco em relação aos países mais progressivos, não valemos tanto quanto seria lógico se não fossem os entraves postos a um desenvolvimento que se ajustaria perfeitamente á simpática popular do futebol.
São necessidades do nosso futebol: instituição do profissionalismo; apetrechamento técnico desportivo; valorização das provas escolares; alargamento do campo no recrutamento de novos jogadores; cessação imediata da proibição dos jovens poderem jogar futebol antes dos 18 anos.”
Portugal contestava a humilhação da selecção nacional mas ninguém tinha coragem nem inteligência para fazer algo mais, e Cândido Oliveira fechava depois o artigo com criticas duras ao habitual choradinho nacional na altura das derrotas:
“Porque havemos de supor, quando vencemos, que somos os melhores do mundo, se quando perdemos não temos a menor serenidade diante do insucesso e nos entregamos com frequência ao desalento, ao queimar de impropérios, á vibrante indignação, quando seria muito mais simples e mais lógico e mais útil ter a curiosidade de conhecer os motivos da derrota e procurarmos encontrar as soluções óptimas para as tornar, não diremos inevitáveis mas menos possíveis?! “

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